Documento de participação do Instituto Salto Quântico (como órgão consultivo com status especial junto ao Conselho Econômico e Social da ONU) no “High-Level Political Forum 2019”, que acontecerá no próximo mês de julho, na sede mundial das Nações Unidas, em Nova York
Fritjof Capra, em seu clássico “O Ponto de Mutação” (1982), afirmou que basicamente atravessamos em nossa civilização uma “crise de percepção”. Thomas Kuhn, em sua obra seminal “A Estrutura das Revoluções Científicas” (1962), descreve o fenômeno cíclico histórico que ele denominou de “mudanças de paradigma”, no campo das ciências e dos valores humanos.
É urgente que geremos uma revolução que envolva todo o planeta, de caráter sistêmico, multifacetado, em todas as frentes de ação, englobando desde as decisões de vulto, no âmbito das políticas nacionais e internacionais, até a implementação de medidas de inclusão social e sobrevivência econômica, respectivamente de indivíduos e povos empobrecidos.
O monstro insaciável e milenar da guerra parece uma chaga que nunca cicatriza em nossa espécie, e o terrorismo toma contornos cada vez mais perigosos, como revela a disseminação da tecnologia bélico-nuclear que nos assombra o futuro, no mínimo pelas próximas décadas.
São extremamente complexos os problemas e conflitos culturais, religiosos, econômicos e políticos que sofremos na atualidade, assim como a questão urgentíssima do agudo desequilíbrio nas funções autorreguladoras dos ecossistemas terrenos. Todavia, é conclusão pacífica, entre doutos(as) de várias disciplinas do conhecimento, que dispomos de meios tecnocientíficos sobejos para debelarmos todas as graves mazelas que põem em risco de extinção a espécie humana e a própria biosfera do planeta.
No entanto, sem vontade política de estadistas, sem conscientização de massa, incluindo as populações ditas “esclarecidas” das nações mais desenvolvidas e ricas da Terra, não será possível a sobrevivência da humanidade.
A mentalidade tribal do nacionalismo é inteiramente incompatível com as crescentes aproximação e interação entre culturas diversas, num globo superpovoado e com recursos naturais escassos e severamente ameaçados. É famosa a expressão de Marshall McLuhan, de que vivemos numa “aldeia global”. Devemos nos ver como uma só comunidade, como uma pequena aldeia, interconectada e interdependente, mas urge erradicarmos a belicosidade primitiva de disputas por território, que trazemos de nosso passado filogenético, de nossa neurofisiologia “excessivamente” animal.
Estamos (ou deveríamos estar) todos(as) cônscios(as) disso. Assoberbados(as) de informações, utilizamos tecnologias e ciência que avançam celeremente, mas teimamos em nos comportar como primatas egocentrados(as), dividindo-nos em grupos etnocêntricos, sejam de natureza linguística (como ocorre mormente entre os povos anglofônicos), geográfica (como acontece notadamente na Europa) ou religiosa e cultural (como se percebe amiúde no Oriente Médio e no Oriente Extremo).
Se não rompermos, profunda e definitivamente, com a fixação esquizoide de nos julgarmos superiores uns(umas) aos(às) outros(as) e de acreditarmos ingenuamente que seja possível algum agrupamento humano sobreviver em detrimento de outros, vamos todos(as) nos precipitar no abismo, cedo ou tarde.
Munidos(as) de todos os recursos e de inteligência para salvar o planeta, fica claro que a questão não é meramente lógica, mas psicológica – qual destacou, no século passado, o influente pensador Stephen Covey. O busílis da problemática está em nossa psique e em nossa cultura (que reflete a primeira), cristalizadas em utilizar os processos de pensamento para justificar manifestações emocionais primitivas. Ou fazemos uma dramática mudança na esfera dos sentimentos, ou prosseguirá o distúrbio cognitivo que vem corrompendo enormemente as deliberações de governos e corporações de grande importância, como também as escolhas pessoais de bilhões de indivíduos, arrastando-nos todos(as), inelutavelmente, na direção do precipício da autodestruição.
Chame-se de humanismo, de espiritualidade sem religião ou de consciência ecológica, teremos que desferir esse salto de percepção e interpretação da realidade, no sentido de verdadeiramente nos sentirmos e nos relacionarmos como irmãos(ãs) em humanidade, despertando para a necessidade inexorável da coexistência cooperativa e solidária de todas as pessoas e povos, sobre este mesmo pedacinho de poeira cósmica que nominamos planeta Terra.
Benjamin Teixeira de Aguiar
Presidente-fundador do Instituto Salto Quântico
(Psicografia do Espírito Eugênia-Aspásia)
Aracaju, Sergipe, Brasil
18 de abril de 2019