Benjamin Teixeira
pelo espírito
Eugênia.

Você dá o que não tem para si, e ainda presta homenagem àqueles mesmos que se beneficiam de sua doação sacrificada.

Chora às ocultas o desespero de suas carências, e sorri para todos, sustentando as massas de carentes que o procuram.

Oculta sua virtude, por detrás do véu da modéstia, e lança os olhares da multidão para cooperadores, muitos deles mais promotores de problema que propriamente participantes de soluções. Faz isso, porém, pelo mero prazer de partilhar estímulos, ainda quando os méritos não acompanham exatamente suas insinuações generosas, e assim se delicia em ver incentivados e felizes todos em torno de você.

Nada disso faz à marra, sei disso. Seu coração bom faz o bem, porque tem o prazer de se dar, de ver o bem-estar dos que o buscam, a satisfação dos que saem saciados, o alívio dos sofredores de variado matiz.

Todavia, apesar disso, aqueles amigos que receberam o melhor de seu coração dadivoso, aqueles mesmo a quem mais fez preitos de gratidão e carinho, atacam-no terrivelmente, nas suas mais caras expressões de amor, cuspindo ódio sobre as feridas abertas de sua alma cansada.

Entrementes, após os primeiros momentos de consternação, você torna a perdoar. Levanta-se, exaurido, do estraçalhamento emocional e moral que se segue aos assaltos nefandos à sua paz, e eles, supondo que você reconhece estar errado, quando na verdade apenas relevava, mais uma vez, o ataque injusto e gratuito, sentem-se, na sua sanha perversa, estimulados a continuar as agressões, e mais uma vez agridem-no no fundo do coração, deixando-o exangue, derrotado, exausto.

Sim, alma amiga, é a hora da provação. Você se surpreende por, apesar de tudo isso, ainda ter as forças intactas para o trabalho. Em meio a todo torvelinho, continua de pé, como se nada estivesse acontecendo. Para quem lhe vê de fora, parece até que apresenta um brilho adicional na excelência de suas funções… uma inspiração misteriosa… uma força ignota… a Força e a Presença de Deus, em seus caminhos, no imo do seu coração… sustentando-lhe as energias vacilantes de ser humano, em meio a uma tarefa sobre-humana…

Não tema a loucura, o arrasamento completo ou o fim de sua existência, antes do devido tempo para a conclusão integral de sua tarefa no mundo. Esteja certo de que a Divina Providência o ouve, o vê e protege-o. As feras devoradoras espreitam-no, na surdina, nas encruzilhadas do destino… Todavia, Deus lhe saberá dar a proteção indispensável: esteja disso completamente convencido.

Mantenha-se, assim, em paz, e siga em sua trajetória de amor e esclarecimento, orando, servindo e aprendendo sempre. Fazendo isso, você não se salvará do mal: já está se salvando, já está salvo.

(Texto recebido em 13 de outubro de 2002.)