Benjamin Teixeira
pelo espírito Gustavo Henrique.
Meditando sobre as múltiplas, constantes e multifacetadas dificuldades sofridas por alguns companheiros encarnados, sob nossa proteção, rememoramos alguns fatos curiosos, a respeito de três amigos no magistério espiritual, que compõem o grupo dos “orientadores desencarnados” desta Organização, em suas respectivas últimas existências carnais.
A sábia e doce Eugênia, como Bernadette Soubirous, foi trucidada, moralmente, ano sobre ano, no transcurso de duas décadas consecutivas, por autoridades eclesiásticas de seu tempo, que a infernizaram, na busca frenética e insaciável por provas acachapantes de sua honestidade, pois que haveriam de declará-la santa, caso reconhecessem-na como uma pessoa digna, em ouvindo-a afirmar, sucessivas vezes, inalteravelmente, com segurança e serenidade, ter visto a Mãe de Jesus, em Pessoa.
Prodígios impressionantes aconteciam na gruta de Lourdes, com curas documentadas, de todo milagrosas, aditando evidências aos relatórios, mas tudo era considerado insuficiente, pela comissão constituída para averiguar os eventos, em torno de sua personalidade. No final das contas, sensível e dócil, atacada pelas energias da inveja, do ódio e da malícia das outras freiras, com quem convivia, e da própria cúpula de sua religião, quedando-se intoxicada e descompensada, emocional e espiritualmente, aprisionada na clausura, que a mantinha longe da família e do serviço ao próximo, a santa desencarnou aos apenas 36 anos de idade, carcomida por câncer nos ossos, em dores lancinantes (de que ela nunca se queixou), que bem revelavam a dimensão de sua frustração e desgosto com a vida, embora permanecesse, externamente, sempre amável e humilde, com todos com quem interagia.
Brígida, a doce irmã de caridade que fez os votos perpétuos e se ordenou no mesmo dia e na mesma ordem de Irmã Dulce, na cidade de São Cristóvão, em Sergipe, ao lado de apenas mais outra condiscípula em ideal, igualmente distanciada das multidões, no exercício profundo da humildade e da afabilidade cristãs, num mundo de maldade e vampirismo generalizados, desceu ao túmulo, com tão-só 51 anos, também carcomida pelo câncer de mama (de cujas dores nunca se queixou, semelhantemente a Santa Bernadette), até o ponto de a enfermidade estar óbvia, atingindo-lhe os pulmões e roubando-lhe a vida física.
Roberto, nosso adorável, indócil e firme escritor desencarnado, portador de especialíssimas virtudes, que faz questão de as ocultar da admiração do vulgo, com sua máscara de sátira mordaz e dureza draconiana, em seu empenho por se mostrar comum, consumido pela justa indignação, desde o berço, por ser tratado, na família, em sociedade e até no seio religioso, como uma aberração da Natureza e uma abominação diante de Deus, tão-somente por haver nascido homossexual, da mesma sorte foi tragado à tumba, com idade de 28 anos, encerrando uma promissora reencarnação, no nascedouro.
É comum ouvir-se dizer, entre os que se mantêm jungidos a aparelhos orgânicos, quando se toma notícia da morte biológica de alguém: “Se fosse um homem de bem, teria morrido”. De fato, mulheres e homens especialmente sintonizados com a Luz costumam desencarnar muito cedo – não raro, ainda na infância ou na adolescência. O médium conversava acerca disso conosco, surpreso por, num espaço de poucos meses, dois vizinhos que se encaixam neste perfil (um jovem de 23 anos e uma senhora de 50), moradores do edifício de apartamentos em que reside, haverem repentinamente sido arrebatados para o plano extrafísico de vida, d’onde agora ditamos este breve ensaio sobre a curiosa temática. Queria ele (o porta-voz psíquico), inclusive, fazer uma nota de rodapé sobre o assunto, a esta altura de nossa digressão, mas preferimos, por motivos íntimos, assumir a autoria por citar as duas personalidades que lhe vieram à mente.
Os amigos nos perguntam: “Por que será que isso acontece tão freqüentemente?” E nós respondemos, mui sumariamente: porque os Representantes da Luz costumam viver esmagados pela pressão psicoespiritual contrária deste mundo incurso na crise de transição para o domínio das Potestades do Bem, e que sofre, exatamente por atravessar este pico agudo de mudança, a reação enfurecida e tresloucada (porque desesperada) das potências conjugadas do mal.
Estas figuras diamantinas, que jornadeiam, lado a lado, com o leitor, sem que por vezes se aperceba seu invulgar brilho e mérito morais (em sua maioria, simples e discretas), são sinceramente humildes, normalmente recatadas, despreocupadas de parecerem melhores que os outros (são melhores, e isso, de ordinário, é evidente demais para que se possa evitar ver); dão muito de si, em serviço ao bem comum (ainda que em medidas módicas – e não coletivas, de grande expressão), vibrações de bondade, empenho de indulgência, tolerância e paciência, recebendo, na maior parte do tempo, em troca, energias e freqüências mentais de malícia, crueldade e ciúmes, nas mais diversas expressões e em graus que variam com a circunstâncias de vida e trabalho em que estejam inseridas.
Não tenha dúvida, prezado amigo, que estes Embaixadores da Divina Providência estão encarnados. E quase sempre, mesmo que não pareçam (eles preferem ocultar seu esforço supremo e martírio íntimo), são almas crucificadas em corpos de carne, ofertando, de suas entranhas, o que amiúde não têm para si, recebendo muito pouco, em retribuição, ao menos não no nível de pureza de intenções com que emanam seus impulsos de amor. Descompensados até o limite da exaustão, comumente acabam por de fato desencarnar precocemente, ou, de reversa maneira, são resgatados pelas Autoridades Celestes, que os levam de volta ao Lugar a que pertencem. São seres humanos (e não anjos), com falhas humanas, mas estão num caminho de genuína santificação (agindo com legítimo desinteresse e honestamente focadas no bem de seus semelhantes); e é exatamente por portarem traços menos nobres de personalidade, em meio a uma enxurrada de virtudes luminíferas, bem acima da média evolutiva planetária, que a má vontade alheia lhes interpreta os gestos como falsidade ou inconsistência de caráter.
Cuidado, amigo. Você até pode ser um deles, mas absolutamente não o será se estiver mais preocupado em avaliar a boa ou má-fé dos outros, em vez de fazer o bem, larga e constantemente, você mesmo. Os Agentes da Luz, no plano físico, costumam realizar o bem quase a todo instante, embora errem, aqui ou ali, dificilmente perdendo tempo com o que os outros estão fazendo ou deixando de fazer. Caem, com freqüência, entristecidos e sem ânimo, exauridos, pelas pressões e exigências de muitos, em torno de si; e, às vezes, até “surtam”, sendo mais veementes em seu pedido de socorro, quando não são tratados com uma dose mínima de justiça, ou não são amados, na menor medida que sentem necessária à sua sanidade mental; enquanto se dão sem reclamar, continuamente, além do que se lhes pede. Todavia, se já são injustiçados, mantendo-se em silêncio; ao ousarem protestar contra maus tratos, são ainda mais bombardeados, pela fúria egóica de seus vampiros contemporâneos, prenhes, é claro, de todas as racionalizações elegantes e justificativas enfáticas de quem quer fugir à culpa e se sentir no direito de cobrar o que não é justo. E esses medianeiros do mal conversam entre si, retroalimentando-se em sua sanha criminosa, buscando pretextos para o impretextável, cada vez mais tendo certeza do quanto estão certos e do quão doentes, errados ou desviados são exatamente aqueles que lhes seriam os canais para a salvação… Trágica e inqualificável ironia, de que pagarão severíssimas contas, ao desencarnarem, além de já escutarem o sinistro sibilo da infelicidade e da desgraça, soprando em seus corações, como a lhes acusar, em macabro sussurro d’alma: “Maldito ingrato!…” – a voz de sua própria consciência, que pugnam por, de todas as formas, solapar, no imo do inconsciente, sentindo-se, contudo, inapelável e progressivamente consternadas, sem atinarem para o motivo…
Um terço da humanidade encarnada é componente do Plano Sublime de Vida (ou seja: partícipe do grupo dos sintonizados com o Bem, predominantemente), asseverou Irmão Jacob, pela pena radiosa da psicografia de Chico Xavier. E, para estes mais avançados na trilha da santificação (a categoria mui especial a que nos referimos aqui), diríamos que compõem algo em torno de 1 em cada 50 habitantes do planeta, como Roberto; sendo que 1 em cada milhão são santos, como Brígida; e 1 em cada 100 milhões, quase-anjos, como Eugênia. Os da terceira classe (1/50 habitantes) reconhecem os da segunda (1/milhão hab.) e os da primeira (1/100 milhões hab.), e costumam envolver-se, quando lhes é possível, na vida prática, em pequenas redes fraternas de amigos idealistas, laborando em conjunto pela Causa do Bem. Se você pertence à quarta classe (1/3 da população) dos contingentes demográficos associados ao Bem, faixa cada vez mais ampla (hoje se aproxima de metade da população humana), atente-se. Para você, que tem maior percentual de dúvidas morais e conflitos psicológicos e filosóficos, será mais fácil confundir-se. Preste atenção à forma de agir e sentir destas pessoas dedicadas integralmente a um ideal, em todas as atividades humanas, da científica à religiosa, passando pela artística e industrial. Alinhar-se com elas é de estratégica importância ao progresso de sua alma, porque são elas solidamente conectadas às Hierarquias Celestes, e, assim, favorecer-lhe-ão o aproveitamento da existência, alinhando-o mais seguramente às Falanges do Bem, ajudando-o a distinguir, com maior clareza, as ilusões e sofismas do mundo, prenhe de dubiedades mentirosas, inversão de valores e falsa moral.
Embora portem personalidades singulares, há alguns traços que costumam aparecer entre eles, quase universalmente. Notar-lhes-á, em particular, um idealismo fora do comum, consorciado a uma total despreocupação com as convenções sociais, já que são porta-vozes de novos esquemas de organização e conduta social, bem como fomentadores vivos de paradigmas e conceitos novos. Inclinados a gestos invulgares de sacrifício pessoal, são, entretanto, humildes, pedindo auxílio externo, qual se fossem deficientes de tudo. Pedem desculpas e agradecem, como se estivessem recebendo grandes favores de quem, em verdade, lhes deve muito. Não temem ser malvistos, se têm que seguir a própria consciência, mas são perspicazes o bastante para protegerem o que está sob sua responsabilidade das raposas humanas que lhes tentam desarticular as tarefas de que se sentem incumbidos pelas Forças da Vida.
Aproxime-se deles, amigo, e tente ajudá-los – você acelerará incrivelmente o seu aprendizado, abreviando estágios provacionais, pulando etapas, produzindo o bem, melhor e em maior extensão, na sua e na existência de quem estiver no seu raio de influência pessoal, e, por conseqüência, é claro: maximizará seu potencial para a felicidade, ainda no intercurso da presente vida física que ora desfruta.
Talvez algum exemplar desta estirpe de espíritos nobres encarnados (conquanto muito humanos, repetimos), que você julgue forte e inexpugnável, esteja por um fio de voltar (à Pátria Espiritual), tamanho o estado de estresse em que se encontre, e seu socorro, quiçá, propiciar-lhe-á mais algum tempo de serviço benemérito na Crosta do Globo. Aprochegue-se com soluções, e não apontando problemas. Oferte sua bondade dadivosa, e não sua crítica ao que falta. Tome a iniciativa de auxiliar e estimular, antes que ele ou ela considere sua presença como mais um encargo e se desgaste por você também, porque se há uma palavra-conceito que revela o motor da existência destes cavalheiros e damas do Plano Sublime é “responsabilidade”. E se você não chegar oferecendo algo, logo se verá recebendo serviço dele ou dela, porque é isso que ele ou ela faz, o tempo inteiro.
Talvez o vulto que você observa, à distância – na comodidade do beneficiário quase-anônimo em que lhe apraz preservar-se –, venha a receber a bênção especial de uma proteção miraculosa, como ocorreu a Irmã Dulce e a Chico Xavier, que foram macerados de sobrecarga, em vida física, e atingiram idade provecta, mesmo assim. Vai contar com que este irmão em Cristo, que lhe merece a admiração silenciosa, obtenha a mesma galharda defesa do Domínio Excelso de Vida? Será que ele porta virtudes tão heróicas quanto os dois santos por último citados? Mais grave ainda: será que os Avalistas da encarnação dele, residentes nas Altas Faixas de Consciência do orbe, julgam que a comunidade a que ele serve merece-o por mais tempo encarnado?
Medite a respeito, principalmente no aspecto filosoficamente axial de que nada acontece por acaso, de não poder estar você lendo à toa minhas palavras, agora, neste universo de significados e propósitos do Ser Todo-Inteligência. Roberto desencarnou no início de suas atividades; Eugênia, vinte anos após ver a Mãe Amantíssima pela primeira vez; Brígida, três décadas após declarar solenemente seus votos perpétuos. Nenhum dos três amigos, portanto, usufruiu a bênção de atingir, engajados nos trabalhos pelo bem comum, o patamar etário da terceira idade, em suas últimas existências físicas.
Não deixe para chorar de remorsos o bem que não fez, àqueles de quem tanto se sentia devedor. E, em contrapartida, não se permita enlouquecer, nas obsessões a que o ego abre guarda, a serem urdidas em seu íntimo, pela certeza na longevidade de alguns beneméritos, em torno de seus passos, como ocorreu ao médium-santo Chico Xavier, que foi acusado de tudo, até de cair na vaidade, e perseguido pelos colaboradores mais íntimos (roídos de inveja), quando, por exemplo, se expôs a divulgar a mensagem espírita pela televisão, apesar da modéstia e reserva muito peculiares a seu modo de ser, sacrificando sua tendência ao recato, para que muitos pudessem usufruir o pensamento luminoso do Plano Sublime. Tão pressionado foi Chico, por gente “muito bem-intencionada”, que o médium famigerado acabou por realmente se recolher, evitando aparecer em entrevistas para a TV, já que não lhe era obrigatório fazê-lo, em função de sua programática cármica, que o ligava tão-só à missão do livro mediúnico. E, então, para quem se dirigiu o débito pelo bem maior que ele faria, se houvesse se permitido maiores e mais numerosas participações na TV, não tivesse sido torturado, moralmente, pela sanha de inúmeros condiscípulos em ideal? Exatamente: para os moralistas, sem autoconhecimento e auto-reforma, que projetavam seu orgulho e apego ao personalismo, no humílimo e despretensioso médium mineiro. Foram estes “indignados” confrades utilizados por agentes tenebrosos de nossa dimensão, fomentando o mal, nos passos de um santo do Bem, a tal ponto que, por portar naturais fraquezas humanas, esgotado, o médium recebeu autorização de seus orientadores desencarnados para não se expor tanto na programática televisiva de sua época.
Ficam ressoando, em nossas mentes, frases que se arrojaram, por aqueles dias, para atacar a imagem e o coração do médium de Emmanuel:
“Que vergonha para nossa causa! Ele é um efeminado!”; ou: “Quanta vaidade! Ele vai cair! Permite-se ser homenageado na televisão!”, entre outras acusações, impublicáveis, porque pactuaríamos, parcialmente, se as trouxéssemos a lume, com a maldade de quem as pronunciou, pela vileza que ia em seus corações, ante o fato de Chico ser dado a muitos comportamentos contraconvencionais, qual legítimo representante de uma civilização do futuro que era e é, tais como: andar de braços dados com amigos homens (e mulheres) pela via pública, sem qualquer constrangimento ou cerimônia; ou dar passes tocando o corpo inteiro das pessoas, dos pés à cabeça, friccionando suas mãos sobre os que lhe recebiam esse benefício sublime, fatos pouco conhecidos do grande público (*).
E ouvimos o eco de volta, na voz dúlcida e inalteravelmente serena do intermediário do Plano Excelso, com sabedoria e bom-humor, traindo, porém, a amargura dorida de um coração sensível sucessiva e continuamente supliciado pela ausência de amor até de seus mais próximos beneficiários:
“Uai: mas como vou cair, se eu permaneço deitado?”
“Sou mãe e pai, ao mesmo tempo, da multidão que me procura. E esta é minha primeira encarnação como homem na Terra.”
Que cada um tire suas conclusões, a respeito dos propósitos de nossa fala, neste artigo.
(Texto recebido em 23 de julho de 2008. Revisão de Delano Mothé.)
(*) João Cuin, um dos autores que escreveu livros sobre Chico Xavier, à guisa de biografia, que conviveu intimamente com o famigerado médium, a ponto de ser das pessoas em quem Chico se apoiava no braço, para caminhar, e que compunha a equipe diminuta da reunião mediúnica fechada de desobsessão, em Uberaba, de que Chico era partícipe, diz, em sua obra “Chico Xavier, Amor e Sabedoria” (DPL Editora, 2006), no capítulo 24, da parte 1:
“Como Dava Passes o Chico?”:
“Dava ele o passe deslizando suas mãos, de alto a baixo, ao longo dos braços da pessoa, até os pés. E isso ele fazia com energia, tanto que despertava certa curiosidade, porque o ato de deslizar as mãos, esfregando-as nos braços e no corpo das pessoas, fazia um barulho característico, mormente naquelas pessoas com roupas de mangas compridas ou paletó.”
Fundamentando na literatura mediúnica, o autor cita André Luiz, no clássico “Conduta Espírita”, revelando haver a permissão tácita para tal forma singular de aplicação de passes, embora nem sempre recomendável, por motivos vários, alguns óbvios:
“Na aplicação de passes não se faz precisa a gesticulação violenta, a respiração ofegante ou o bocejo de contínuo, e (…) NEM SEMPRE há necessidade de toque direto no paciente.”
(Nota do Médium)
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