Benjamin Teixeira de Aguiar
pelo Espírito Roberto Daniel.
Outro dia, a sirene de alarme para minhas tarefas tocou. Precisaria, com um grupo pequeno de amigos diletos, dar assistência a casal heterossexual de protegidos de nosso Plano de Ação. Quando nos aproximamos de nossos objetos de socorro, tomamos nota do que se passara: o esposo fora à bancarrota financeira, por ação de sócio larápio, na microempresa que fundaram juntos, cheios de sonhos partilhados. Um desfalque tremendo, que subtraíra todo o capital de giro do negócio, em elaborada manobra de tecnicalidade jurídico-contábil.
O espertalhão ria-se gostosamente, à distância do velho amigo, congratulando-se pela inteligência que tivera em dar o golpe de um modo que não poderia ser penalmente responsabilizado por nada. Enquanto isso, o ex-sócio chorava, abraçado à esposa, fundamente entristecido, não só com a desonrosa traição que sofrera, por parte de quem julgava um irmão, mas também com a perspectiva das tremendas dificuldades que atravessariam, na educação e até mesmo no quesito alimentação dos três filhinhos do casal (em idade infantil), por um tempo indefinido, pois que não contavam com uma rede de relações com pessoas endinheiradas ou influentes, que lhes propiciassem uma saída rápida do drama em que foram precipitados, de inopino, com inúmeras contas a pagar.
Bem, o fato é que, meses depois, encontrei o sagaz golpista em processo de desencarnação antecipada. O espertalhão que “passara a perna” no grande e fiel amigo debatia-se como um animal abatido e abandonado à própria sorte, no chão frio do banheiro de seu confortável e amplo apartamento, sem que ninguém lhe prestasse socorro, enquanto seu quadro orgânico lastimável fazia-o perecer em lancinantes dores de um aneurisma “arrebentado”.
Teria a chance de ficar mais alguns anos no veículo de carne, se cooperasse com o antigo guia espiritual, que descera ao mundo físico para estar com ele, justamente como sócio na iniciativa no setor de serviços. Em lugar disso, seus débitos morais avultaram-se significativamente, porque, além de não colaborar com seu protetor espiritual, a quem via como um homem bom-bobo (seu pai n’outras existências), ainda lhe criara problema para os três filhos, que precisaram se submeter a uma série de privações que não atravessariam, não fosse a astúcia comercial do companheiro de trabalho de seu extremoso paizinho.
Apesar do uso excessivo de álcool e de tabaco a que se confiava, viveria mais vinte e cinco anos, embora padecendo as deficiências fisiológicas causadas pelo vício, e só partiria para a pátria espiritual por volta dos quase sessenta de idade no corpo de matéria densa. Foram as informações que pude colher das Autoridades espirituais por ele responsáveis, a fim de publicar este singelo artigo-alerta.
Como não soubera aproveitar a oportunidade sagrada de retribuir imensos favores a seu pai pelo espírito (em processo de redenção, laborando os aspectos da humildade, no serviço direto de atendimento a clientes, em trabalho de hotelaria de praia), e ainda prejudicara inúmeras outras criaturas bem-intencionadas, com quem cruzara caminho, romper-se-lhe-ia uma artéria no crânio, em acidente vascular cerebral de grandes proporções, apenas quatro meses depois do movimento de furto e deslealdade para com o velho amigo-irmão. Por Misericórdia de Deus, o AVC surripiou-lhe do organismo material, sem chegar a deixá-lo inválido, mudo, paraplégico e com graves limitações cognitivas, pelo quarto de século que teria a mais de vida física. Desencarnou logo, graças à intercessão de um Ente querido com acesso à Espiritualidade Maior – sua avó materna –, por ascendentes morais superiores.
A idiotia, no entanto, fiquei sabendo, seria sua sina na próxima existência no domínio carnal do orbe. Por cinco vidas sucessivas, desde que desenvolvera alguma inteligência ligeiramente acima da média planetária, vinha aplicando golpes em pessoas de boa-fé. Agora, precisaria sentir-se aprisionado, durante vários decênios, à jaula mental de um encéfalo deficiente, para que prestasse atenção aos sentimentos alheios e aprendesse a respeitá-los, ao suportar a violação de sua própria dignidade, entre zombarias e aversões generalizadas, renascendo entre alguns daqueles a quem mais houvera defraudado n’outras encarnações, jungidos a ele, então, pela consanguinidade, na condição de irmãos e pais biológicos.
E pensar que ele se julgara “levando a melhor”…
Para encerrar, voltemos ao quadro do “perspicaz” golpista, debatendo-se em movimentos grotescos, no chão do banheiro. Não longe dali estava a esposa, a providenciar o aborto do terceiro bebê, grávida por envolvimento sexual com um colega do marido, tão cínico quanto ele mesmo.
Sozinho, sem amigos, sem familiares, sem a esposa, corpo convulso, de forma deplorável, enquanto o espírito do ex-golpista observava a cena, projetado para fora da máquina orgânica, em estado de total pânico. Correu, dali, movido por força oculta, na direção da consorte, encontrando-a aos beijos e abraços cariciosos, numa antessala da clínica especializada em abortos, com seu comparsa de falcatruas.
Mal se recuperara do choque, todavia, foi cercado por falange de entidades perturbadoras com intenções parasitárias. Não, ele não vira uma Luz no fim do túnel. Em vez disso, sentiu-se arrastado para baixo da terra, aos urros de desespero e pavor. Seres deformados, quais feras famintas e selvagens, meio homens, meio bestas, rasgavam-lhe os tecidos do corpo espiritual, com presas e garras vorazes, sugando-lhe a vitalidade remanescente dos despojos físicos recém-abandonados. Com dores indescritivelmente agudas, casadas a um estado psicológico de horror, o tão esperto enganador foi lançado, com vigilância em rodízio, em furna escura de faixas psíquicas inferiores de existência. Estava, ali, aos trapos, mas vivo, para ser novamente “devorado sem morrer” – era assim que se sentia –, por aquela matilha de homens-cães, homens-lobos (*), por um tempo indeterminado…
(*) Curiosamente, a palavra “lupino” (relativa a lobos) é empregada para qualificar pessoas de má índole, traiçoeiras, enganadoras, perversas etc. O golpista da narrativa terminou presa de seres cuja deformidade perispirítica (vide coleção “A Vida no Mundo Espiritual”, de Chico Xavier-André Luiz) lhe retrata o padrão de sentimentos e atitudes.
(Nota da Equipe)
Ouça comentários explicativos de Benjamin Teixeira de Aguiar sobre este artigo mediúnico em: Espertalhões e sua sina.