por Benjamin Teixeira
No labor doloroso da reforma íntima, não se renda ao cilício inútil e pernicioso da autotirania moral.
Suspenda imediatamente o regime contraproducente da coação mental, que destroça estruturas e mina energias, numa contenção antinatural que estoura, quase sempre, no recrudescimento das mesmas mazelas estranguladas.
Aplique e viva o amor, força elementar do Cosmos, que lhe coroará com a vitória em qualquer empreendimento, técnica infalível para a solução de problemáticas complexas.
Em vez de concentrar energias em um auto-aprisionamento draconiano, medieval, permita-se o fluxo livre do amor desinteressado e puro, sob a disciplina suave do sacrifício pelo bem, com que canalize as mesmas energias para o auxílio do semelhante.
“Vinde a mim, todos os que estais em sofrimento e andais carregados. Eu vos aliviarei (…), porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” ( Mateus, XI: 28-30)
O egoísmo, potência centrípeta do espírito, quando galvanizado, produz uma implosão no ser, uma hecatombe às avessas, que arrasa-lhe as paisagens íntimas.
O altruísmo, força centrífuga da alma, quando dinamizado, gera uma explosão de faculdades, que opera a multiplicação e a semeadura de recursos novos, a reverterem ao ponto de origem, em santo comércio, no intercambio das riquezas espirituais.
O egoísmo persegue valores transitórios e nunca atinge o ideal de saciedade.
O altruísmo, além de sóbrio nos apetites emocionais, angaria, para o seu portador, no paulatino desdobrar do seu exercício, depósitos indevassáveis para a eternidade.
Por esta razão, se arrebentar as amarras instintivas do egoísmo é tarefa difícil, o desafio de sobrepor-lhe as jóias faiscantes do altruísmo compensa qualquer dispêndio.
O egoísta é escravo de uma “felicidade” mesquinha, exclusivista, discricionária. Atado ao ciúme, à inveja, à ambição, à sensualidade; atormentado, ansioso e desconfiado, vive continuamente sob a chuva mental ácida, a espera de temporais piores.
Já o altruísta, servo da felicidade de todos, vive colhendo alegrias a mancheias, prodigalizando pequenas e grandes oferendas de generosidade e abnegação com quem lhe desfruta a convivência ou apenas a presença. Nunca lhe falta a seiva da felicidade (*), porque a sua felicidade é a felicidade alheia – e sempre há uma forma de felicitar alguém, entre tantas pessoas e tantas carências de multifárias naturezas. O egoísta, por seu turno, tem em mira um único interesse: o ego rabugento, quase sempre algemado a caprichos cristalizados.
O altruísta, abraçando como norma constante de conduta a doação incondicional, conecta-se diretamente com os mananciais infinitos da Providência Divina. Já não pede nada para si, por respirar em atmosfera superior, e, no entanto, tem o universo a seu dispor.
O egoísta, despótico e indomável, pretende subjugar o mundo a seus pés, e investe, para tanto, vastos capitais de esforços; não obstante, percebe, inconformado e borbulhante de revolta, todas as forças da vida conspirarem contra seus intentos escusos.
O altruísta, despreocupado de amealhar a estima dos outros, mas almejando e pugnando por agradá-los indistintamente, é aquinhoado com o amor de todos, além da felicidade intraduzível de a todos amar.
O egoísta, não conhecendo a experiência intraduzível e máxima de amar, é por todos detestado, enquanto se esfalfa numa batalha estúpida e improfícua por se impor ao afeto dos outros.
O egoísta inteligente tanto maquina meios e mecanismos de enganar, para o comércio nefando da pilhagem do próximo, que, em se acostumando ao clima da mentira, perde totalmente a crença na verdade, acabando emboscado na própria perfídia, enganado pela própria ilusão, desfalcado em seus patrimônios eternos pela sua irreflexão, alienado dos reais valores da vida, do mundo e de si mesmo, carcerário do inferno que forjara para o semelhante.
O altruísta inteligente, por sua vez, transcende a percepção comum, abarca realidades profundas, inimagináveis às demais criaturas, ilumina-se e clareia o mundo com sua luz, desvencilha-se da canga da ignorância e da insensatez das paixões vis e brinda a coletividade com a preciosidade da sabedoria, compulsando a verdade e exercitando a sua prática, felicitando-se e por toda a parte disseminando o vírus santo da felicidade verdadeira, alicerçada nas bases sólidas da serenidade, do conhecimento e da caridade, e não nas colunas de madeira oca da indiferença e do calculismo, fincadas na areia movediça dos gozos materiais, qual se apresenta a ventura falaciosa das filosofias material-egoísticas.
Em suma, o amor é a técnica sublime legada pelo Criador para a plenificação existencial das criaturas. É a faixa de sintonia com a harmonia cósmica e com os Poderes Supremos que regem mundos e galáxias.
Todavia, há ainda, em pleno século da debacle do sistema materialista de idéias, quem recuse adotar em suas vidas este método opimo e supino de solução, realização e auto-realização.
Há ainda, depois de vinte séculos de maturação coletiva dos ideais crísticos, quem não os tenha compreendido, considerando-os conceitos frouxos e inviáveis na prática, taxando-os de românticos e até de infantis, gravitando longe de suas premissas libertadoras e afundando-se, cada vez mais, no paul da própria miséria.
Infelizmente, como o entendimento justo do amor trata-se de conquista moral individualíssima e intransferível, nada nos resta fazer, além de amá-los ainda mais, e, amando-os, interceder por eles, através da oração, e prodigalizar-lhes, incansavelmente, alertas e oportunidades sempre renovadas de esclarecimento e regeneração, ministrando a pedagogia do amor e, principalmente, a sua exemplificação, para lhes lecionar a cartilha celeste do amor, em nome do Amor de Deus.
“Amarás o senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (…), e (…) amarás o teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas.” (Mateus, XXII: 37:40)
(*) Parte do texto corrigida (à época) após a publicação.
(Texto publicado no extinto Jornal da Manhã (ano V, nº 1629), de Aracaju/SE, em 04 de fevereiro de 1992. Revisão atual de Delano Mothé.)