Benjamin de Aguiar
pelo Espírito Eugênia
Um dos maiores desafios do ser humano é encarar a morte com naturalidade. Muito embora programado para dela se evadir, possuidor, assim como todos os animais, do instinto de preservação, o ser humano é dotado, todavia, da faculdade de raciocínio, que lhe faz antever a fatalidade de sua finitude, causando-lhe profunda angústia, de que são poupados todos os restantes seres viventes do orbe.
Essa angústia, entrementes, representa um convite ao salto de percepção: a transcendência, a consciência de que o ser humano não é apenas o corpo material, mas está no mundo físico de passagem, aprendendo e se preparando para novas jornadas evolutivas, o que, como fica óbvio, confere significado, amplitude e grandeza ao estar vivo.
A maior parte dos indivíduos tem a ideia de que a temática da morte é um assunto de mau gosto. Fugindo ao inevitável (a única certeza da vida), procrastinam ou até julgam desnecessárias reflexões basilares sobre o valor da existência, já que, somente por meio da meditação acurada a respeito da morte (que estabelece limites à vida), pode-se compreendê-la em profundidade e, assim, usufruí-la em plenitude.
A tanatofobia, o medo fundamental da morte – um receio basal e universal –, assume, então, nas personalidades superficiais que se negam a reflexão fundamental, proporções neuróticas, desdobrando-se em toda sorte de distúrbio emocional e do comportamento, prejudicando o andamento da existência, perturbando, ironicamente, o aproveitamento da vida, que tão ciosamente querem preservar.
Procure meditar, amigo(a), enquanto é tempo, quanto ao tempo que lhe resta na superfície da Terra, para que não o desperdice improficuamente e venha disso se lamentar, amargamente, tarde demais. Ninguém pode viver integralmente, se não cogita da morte. Quem sabe que o conteúdo do frasco de perfume não vai durar para sempre não o consome de qualquer modo.
Destarte, quando for estabelecer metas, quando for preencher seus dias, dê um pouco de tempo a si e faça algumas rápidas elucubrações sobre morte e vida, finitude e imortalidade, materialidade e espiritualidade. Como poderá você estabelecer objetivos para algum empreendimento, sem considerar o tempo de desdobramento desse projeto? Em Administração e Economia, seria este um erro elementar: ignorar tempo operacional para a produção, período necessário ao alcance de metas… E como, então, permitir passar pela mente a mais leve conjectura de gerir o maior de todos os empreendimentos – a própria existência –, sem considerar que seu tempo é limitado?
Não se trata de pensar no pior: a vida continua depois da morte, constituindo esta, tão somente, uma mera transposição de dimensão existencial. No Domínio Espiritual de consciência, no entanto, teremos outras ocupações e funções, de molde que o defenestrar de oportunidades preciosas hoje trar-nos-á consequências severas após o decesso carnal. Mas ainda que a vida não prosseguisse além da matéria, e principalmente se assim fosse, maiores razões teríamos para fazer tais estudos de otimização do aproveitamento do tempo, já que teríamos que valorizar ainda mais e extrair o máximo possível do curto período de ensejos a viver, tragicamente estreito de que disporíamos.
Pensar na morte, como se nota com esses argumentos que alinhavamos, não é se entregar a divagações sombrias, deprimentes e sinistras. A morte é questão fundamental a ser considerada, para se viver plenamente. Além do quê, sendo a única ou das poucas certezas que há na existência humana, é um dos alicerces precípuos em que se deve estruturar uma boa filosofia de vida ou um bom paradigma de mundo, para que se garanta um nível ótimo de lucidez.
Se você é inteligente, não dirá a asneira de tratar-se a morte de tema evitável. Tentar esquecê-la, ou colocá-la em segundo plano de considerações, equivale a lançar um crocodilo vivo e faminto para debaixo do tapete da sala de estar, reunindo-se lá toda a família; corresponde, igualmente, à atitude da criança de tenra idade que, defrontada com situação de perigo grave e iminente, fecha os olhinhos ou os tapa com as mãos, certa de que, por não vê-la, a realidade temível também deixa de existir.
(Texto recebido em 29 de fevereiro de 2000. Inobstante haja 11 anos e meio entre sua recepção e publicação, a data da psicografia desta mensagem está correta.)