Existem necessidades que, indubitavelmente, devem ser atendidas, sob pena de se criar desajuste interno, pela carência que é deixada em seu lugar, quando não supridas. Mas há necessidades ilusórias, perigosas, que criam falsa noção de verdade e de bem, corrompendo, lentamente, as estruturas da personalidade e do caráter do indivíduo. A civilização materialista-consumista ocidental é primorosa em propelir a esse tipo de patologia sutil, mas altamente arrasadora. Seduz com suas promessas de prazer, engalanadas em sofismas dourados e, depois, elaborando um quadro de valores que lhes dá respaldo, em racionalizações brilhantes, coopta e escraviza milhões.
Fique atento, prezado amigo, para verificar se você mesmo já não se fez alimária passiva sob o império desses hipnotizadores sinistros, vampiros da vitalidade e da alegria dos seres humanos. Em última análise, nenhum ser humano na Terra está completamente livre deles, e quanto menos se supuser indene, mais está completamente submetido a seu controle. (Bebo porque quero e porque gosto – paro quando quiser… Tenho medo da pobreza porque é um fato que a escassez de recursos é uma realidade indiscutível – por isso, a prioridade em minha vida é a aquisição e acúmulo de bens materiais.)
Tais estruturas veladas de interesses subliminarmente cativam as multidões por meio de mensagens sub-reptícias, dissimuladas em discursos persuasivos ou inocentes, arrastando sem que se perceba, a vontade e a liberdade de suas vítimas, para o campo minado da dependência, da impotência e do desespero, qual um polvo diabólico e invisível que envolvesse suas presas, imperceptível mas continuamente, para o abraço fatal da loucura e da morte.
Para que lhes perceba a sanha sutil, observe se começa a notar impulsos mecânicos de fazer ou de sentir, sem que tais ímpetos correspondam a interesses e aspirações realmente seus; se vive como autômato, sem consciência do que realmente quer, de quem concretamente é, de para onde de fato está se dirigindo.
Desde a infância tenra até o fim da vida, o ser humano na Terra é enredado por mil sugestões macabras de renunciar ao poder sobre si, e render-se ao poderio do sistema. Os vícios, os valores pré-concebidos sobre competência pessoal e possibilidades de destino, as expectativas para o amanhã, a crença ou descrença no ser humano, tudo é induzido, mui sorrateiramente, diretamente ao subconsciente dos enleados, fazendo-os pensarem no compasso e no diapasão da melodia psíquica que convém ao Poder Oculto do Mal.
Desperte, amigo. Paulo, em momento singular de inspiração, disse: Desperta, ó tu que dormes; levanta-te e o Cristo te iluminará. Cabe a cada um de nós exercitar contínuo trabalho de e-lucidação da psique. Viemos de longo pretérito de inconsciência animal, no carreiro de um doloroso parto de despertar da consciência, em milhões de anos de evolução filogenética; e, na condição de seres híbridos, intermediários entre a brutalidade instintiva e a plenitude de lucidez dos anjos, a propensão de nos inclinarmos à inércia afligente dos reinos mentais primitivos é grande e dificilmente se vence. Eis, assim, o porquê das reincidências grosseiras em erros crassos, já claramente vistos como tais: a mente humana, viciada em milênios de desmandos e fixações primais, acaba por retornar, volta e meia, aos seus antigos e fortes condicionamentos.
A luta para vencer tais atavismos, portanto, deve ser ingente. Mas os benefícios, a alegria de se transcender, a satisfação indescritível de perscrutar novos universos cognitivos e vivenciais, de vislumbrar novas possibilidades de realização e de felicidade são inenarráveis.
Persista sempre nesse ideal, amigo, e, para atingir tão nobre objetivo, concentre-se em tudo que convier à ativação das faixas superconscientes de seu psiquismo, atividades como a prece, a leitura de elevado teor espiritual, a meditação, a frequência assídua a grupos religio-espirituais, o convívio, a permuta e o serviço a pessoas e entidades notoriamente devotadas ao ideal do espírito, a prática do bem, o esforço contínuo da melhoria íntima, no acendramento do caráter, das emoções, dos sentimentos, na disciplina do comportamento.
Procure orientação abalizada, una-se a pessoas com fins comuns, exija-se rigor no cumprimento de suas disciplinas espirituais, e, não importando o que aconteça, persista sempre na perseguição de seus ideais, ainda que tenha que formulá-los n vezes, relativizando-os ou adaptando os procedimentos para alcançá-los, conforme novos dados ou introvisões que obtenha a respeito. Mas jamais desanime de seguir o que sua alma lhe pede. Des-anima-r, como sugere o verbete latino, de que é derivado o vocábulo português, implica renunciar à própria alma. E você pode fazer tudo, menos abdicar de sua essência, porque, mais uma vez, como nos lecionou Jesus: De que vale a um homem conquistar o mundo e perder sua alma?
Sua alma é tudo que você realmente é, e o que mais, do fundo do coração, deseja. Não constitui um conjunto de abstrações metafísicas de difícil entendimento, só acessível a santos e luminares humanos: é patrimônio comum da humanidade e representa o cerne de cada individualidade, a pedir atenção e cuidado, para não ser esquecida e condenar o incauto a completo tormento, nessa vida e na(s) outra(s) (do outro lado da morte e após a reencarnação), ainda mais.
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
Matheus-Anacleto (Espírito)
14 de novembro de 2000