Eugênia-Aspásia – Boa tarde, prezado amigo, como está se sentindo?
Benjamin Teixeira de Aguiar – Bem. Pelo menos, acho isso. Tenho alguns conflitos, mas creio que os estou administrando da melhor forma.
EA – Muito bem: esse é um conceito mais apropriado para definir o estar-se bem. Num mundo complexo como o da atualidade, é impossível o bem-estar completo, no sentido da ausência de conflitos, de confrontos de interesses, de ambiguidades, de confusões emocionais, de atritos de caracteres. Mas o administrar bem tais situações – isso, sim – podemos compreender como uma excelente condição íntima.
(…)
BTA – Adorei a analogia feita por nosso amigo (…)¹, com relação à nossa Organização, o Instituto Salto Quântico, que ele vê como a “dama” no “jogo de damas” de sua existência, ou seja, o eixo inarredável de sua vida, a única peça que não pode ser removida do “jogo” de suas escolhas pessoais, enquanto todas as outras são negociáveis ou permutáveis – digamos assim. Percebo-o um grande idealista, conforme ele mesmo disse: “O trabalho e o amor são importantes em minha vida, mas o Ideal é o centro de tudo para mim.” Tive muita empatia com ele, porque a vejo, querida Eugênia, do mesmo modo: como a “dama” no meu próprio universo pessoal.
EA – Rica a metáfora e gentil a referência à minha pessoa, mas você deve entender que eu represento sua consciência – e apenas nesse sentido posso ser considerada a “dama” do seu jogo existencial… do seu tabuleiro de xadrez²… mesmo porque, nesse outro jogo, que propicia um entendimento mais justo da intrincada tecedura da vida e da mente humanas, o “rei” é o centro do processo, como o Self o é, no trabalho de integração da personalidade e de “individuação”, rumo ao ser pleno, totalizado.
(…)
BTA – Nosso mesmo amigo afirmou estar muito preocupado e angustiado ainda com seu passado, como se vivesse o afã impossível e desesperador de apagar o inapagável. Teria algo a lhe dizer sobre isso?
EA – O passado foi tudo que nos permitiu chegar ao presente. Ele não seria o homem que é hoje, não teria repelido, tão poderosamente, as pessoas inadequadas ao seu caminho de aprendizados e realizações, se não houvesse atravessado a longa “via-crúcis” a que foi submetido. (…) Distúrbios, sem dúvida, aconteceram – assim como ocorrem ao corpo da mulher, que se deforma, no progresso da gravidez, e se lacera, para parir. Nem por isso, por haver sangue e risco de morte, deixamos de louvar os processos de gestação e parto, como gloriosamente divinos. Podemos aprofundar a alegoria, recordando-nos de que, parindo mais tarde, quando mais arriscado é o procedimento, a probabilidade de a mulher se tornar mais longeva é também muito maior³. Como sempre, os paradoxos magníficos da Vida, que, se válidos no nível material, muito mais o são no plano das ideias e do Espírito…
Eugênia-Aspásia (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
8 de setembro de 2007
1. Nem todo diálogo que entabulo com o Espírito Eugênia-Aspásia é registrado. Normalmente, em nossos encontros diários, afora situações de exceção, costumo ouvi-la e/ou vê-la, sem apelar para esse sistema de comunicação escrita. Por automatismo da psicografia, a que me dedico desde que a Orientadora Espiritual me apareceu pela primeira vez, há quase 20 anos (mais sistematicamente, porém, há 15), é-me fácil fazer o registro de nossa interação, quando sinto necessidade ou intuição para tanto. Assim, enquanto a vejo e ouço, posso digitar o que ela me diz, bem como transcrever as falas que lhe dirijo por via telepática. Os nomes das personagens envolvidas foram naturalmente retirados do texto que ora é publicado, da mesma forma que qualquer elemento indireto que as pudesse identificar. Da conversa, muito mais longa, extraí, por inspiração de Amigos Espirituais, os trechos que julguei de interesse coletivo e, portanto, passíveis de virem a lume: são os que compõem esta minúscula coletânea de perguntas e respostas.
2. Com uma brilhante riqueza simbólica e um profundo domínio na busca de significados complexos (que absorvam toda a sutileza da temática) e construtivos (que orientem na aplicação imediata em nossas vidas), Eugênia-Aspásia “salta” da metáfora do jogo de damas para a do xadrez, dimensionando, com impecável acerto ético-filosófico, quanto psicológico-espiritual, a função do Guia Espiritual na existência de um indivíduo, como uma figura coadjuvante à “voz” de sua consciência, ou como um padrão de pensamento-sentimento que entra em ressonância com os estratos mais elevados ou nobres de seu psiquismo.
3. Curiosa pesquisa foi publicada há alguns anos, a respeito da relação entre a idade de uma mulher por ocasião de seu último parto e sua longevidade. A probabilidade de mulheres parturientes aos 40 (ou mais) anos ultrapassarem a casa dos 90, ou mesmo atingirem o marco impressionante dos 100 janeiros de existência, é multiplicada algumas vezes, tendo em vista a expectativa de vida das que dão à luz mais cedo. Em sua excelência funcional – especula-se –, o organismo freia o relógio biológico da mãe, no intuito de lhe preservar forças para que cuide da cria (até que ela fique adulta) e, quiçá, possa ainda ajudar no zelo das futuras crias da cria – caso seja esta uma menina, já que, na humanidade terrena, as mulheres jovens dos tempos primitivos tinham a função de coletar frutos, raízes e congêneres (enquanto os homens eram caçadores), e confiavam sua prole, nessas ocasiões de serviço externo ao “ninho”, à figura de sua própria mãe ou avó dos bebezinhos das primordiais savanas africanas.