Crônicas de Gustavo Henrique

 

Benjamin Teixeira
pelo espírito
Gustavo Henrique.

 

Esta cena aconteceu há algumas décadas, e vou resumi-la, concluindo-a rapidamente no sentido das lições implicadas, pela intenção de fazer breve, hoje, nosso noticiário narrativo-esclarecedor.

A garota ardia em febre, parecendo delirar, nas vascas da morte, com todo aspecto das agonias finais do estertor. O pai, consternado, dirigiu-se a médico da família, com a grande e redonda cabeça aureolada por veneráveis cãs.

– Por favor, caro esculápio, resolva nossa crise familiar e cure nossa menina. Sei que haverá verdadeiro pandemônio neste modesto lar, se o senhor repetir, para minha senhora, o prognóstico funesto que acabou de me proferir. Ninguém concebe perder Luíze na própria vida. Ela nos fez mais amorosos, unidos e fraternos, como jamais nos foi possível conceber a nós próprios. Caçula, não imaginávamos que ainda seríamos presenteados com um anjo em nosso seio doméstico. O senhor deve se lembrar como era nosso clã antes do surgimento deste tesouro do paraíso… Graças à insistente súplica da menina, iniciamos, há cinco anos, expressivo trabalho de assistência a crianças carentes, e nos tornamos uma família religiosa, quando sequer nos recordávamos do Criador, mesmo em períodos de festividades cristãs.

O médico, com relativa intimidade com o chefe de família, esforçava-se para não demonstrar a própria emoção.

– Apesar de minha função de físico, não me é dado gerar curas que a Providência não deseje. O caso de Luíze é grave. Mas lhe prometo manter entre nós esta minha primeira impressão de irreversibilidade do quadro, e farei o possível pelo bem-estar de sua preciosa menina, com meus parcos recursos de curador humano, aguardando que, do Mais Alto, aflua o socorro de que ela realmente carece.

– Compreendo, doutor, mas vejo-o como um sacerdote da medicina, mais que um médico profissional. Creio que será por suas mãos que obteremos este particularmente especial benefício das Alturas.

Assistíamos à cena, tocados, e, de fato, fizemos consultas diversas, a Autoridades Espirituais de nosso plano, a ver se poderíamos recuperar a saúde da moça e restabelecer-lhe o vigor, por ao menos alguns anos, em função da importância simbólica, moral e espiritual, de sua estada na Terra, na fomentação de tantas tarefas beneméritas, a serviço de centenas de necessitados do mundo físico. Autorizada a restauração de seu equilíbrio fisiológico, informaram-nos que, por ascendentes graves, relacionados às pendências cármicas dos interessados, a jovem descera para desencarnar repentinamente, mal saída da pré-adolescência. Sendo alma de escol, em fase muito avançada de purgação de débitos variados, adquiridos em outras vidas, estava ali sobremaneira em função de necessidades evolutivas dos espíritos de seus pais e irmãos biológicos, bem mais na condição de anjo misericordioso que de criminoso revel ou cúmplice dos delitos que houveram provocado as penas de que participava no padedimento. Era o que se chama de guia espiritual ou de anjo da guarda, que se fizera jungir a um veículo de carne, para provisoriamente se manifestar no domínio material de existência.

Para nossa surpresa, entretanto, além de permissão para refazimento de forças físicas, a reversão do quadro orgânico da menina de 13 anos não se deu em função de alguns anos de trégua apenas – adiando-se as dores de todos os envolvidos, em perdê-la precocemente para a morte –, mas lhe foi concedido permanecer no orbe, para cumprir missão junto à coletividade, no que concerne a tarefas no campo pedagógico. A possibilidade de tal dilação de tempo já se havia aventado, antes de sua vinda à ribalta da reencarnação, mas a probabilidade era pequena de que as circunstâncias se fizessem propícias neste sentido. Extraordinariamente, apesar de ser este um caso incluso na denominada categoria “projeto ômega”, os familiares, em fortes elos carmáticos com o destino da morte prematura da menina, haviam de tal modo se transformado, psicológica e moralmente, com a presença da infante luminosa, agora menina-moça, que foi considerada suspensa a promissória cármica do desencarne, em tenra idade, da Luz da vida de todos, em que ela se constituía.

“Luíze” ainda está encarnada. Grande mestra do Plano Sublime, publica livros, no Brasil, na área das obras didáticas, favorecendo o crescimento de enormes massas de adolescentes, com sutis colocações de cunho humanitário e social, nas entrelinhas dos textos que subscreve.

Outras “Luízes” estão reencarnadas na faixa física de vida. Atentemo-nos. Carecem de nosso concurso, de nosso apoio, estímulo, e, principalmente, condições mínimas para a realização de sua elevada delegação de responsabilidade.

Por outro lado, foquemos, maravilhados e gratos a Deus, o milagre e a bênção inaquilatável de nosso livre-arbítrio, favorecendo-nos, a todo tempo, o direito e o poder de decidir nossos destinos para melhor – para bem melhor do que talvez estivéssemos primordialmente programados.

Escolhamos, tanto quanto esteja ao nosso alcance, o amor, a sabedoria, o ideal e o bem, e as portas do universo se abrirão de par em par, ante nossos passos resolutos de homens e mulheres de bem, propiciando-nos o crescimento e a realização pessoal, em medidas exponenciais, por meio do serviço prestado ao bem comum.

(Texto recebido em 11 de dezembro de 2007. Revisão de Delano Mothé.)

(*) O que É o Projeto Ômega:

Em poucas palavras, o termo tipifica casos de espíritos de respeitável patamar evolutivo (para os padrões terrenos) que reencarnam para despertar o coração enrijecido de protegidos, e que desencarnam (geralmente, de modo repentino) entre o final da infância e meados da adolescência. Sendo almas virtuosíssimas e portando inteligência brilhante – exatamente por sua condição destacada de desenvolvimento, para a média planetária –, pedem, amiúde, para nascer encantadoramente belas, de modo a ainda mais causarem impacto emocional e inspirarem amor, em função dos fins de gerar crise e estimular a transformação a que se destina sua partida inesperada. Sua morte costuma provocar tal comoção, entre os enlutadíssimos entes queridos que lhes sobrevivem ao decesso carnal, que lindas obras de benemerência, alcançando milhares de criaturas carentes, freqüentemente são fundadas em sua homenagem – o preciso propósito que os faz descer: morrer… para transformar os corações empedernidos de seus pupilos. São guias espirituais ou anjos da guarda que retornam aos proscênios da vida material e logo voltam à Pátria Espiritual d’onde procedem. A alternativa ao desencarne precoce, para estes espíritos de escol, é continuarem encarnados, a fim de se dedicarem a expressivas tarefas de proporções coletivas, como no caso narrado, neste artigo de Gustavo Henrique.

(Nota do Médium)