(Uma visita ao “World Trade Center”, em setembro de 1999.)
por Benjamin Teixeira.
Nova York, setembro de 1999. Por insistência de um amigo, que me acompanhou naquela viagem em circuito de palestras nos Estados Unidos da América (desde maio de 1996, fazia viagens anuais aos EUA, com este propósito), subimos ao topo do “World Trade Center”, para uma vista panorâmica. Uma multidão de todas as nacionalidades se aglomerava, no grande salão para turistas, num dos últimos andares de uma das famosíssimas “Torres Gêmeas” de Manhattan, fazendo-nos recordar do mito bíblico da “Torre de Babel”, fulminada pelo Divino, em castigo ao orgulho humano.
Uma barra metálica separava o povo das paredes de vidro, e uma paisagem imponente e espetacular da capital cultural e financeira do mundo se delineava, em todos os sentidos, provocando vertigens, por dar a impressão parcial de estarmos soltos no ar, vendo gigantes arranha-céus diminuídos, quais casinhas de boneca, lá embaixo. Tão alto era o espigão onde estávamos, que, com atenção, dava para se perceber a curvatura da Terra, na linha distante do horizonte.
Um sentimento grandiloquente de reverência e assombro, diante da cena, fazia com que as pessoas, que se apinhavam no grande quadrado de vidro, falassem praticamente aos sussurros. Recostei-me num dos pontos da barra, e senti um impulso intuitivo irrefreável a orar e meditar. O camarada de viagem fez uma carantonha de espanto (eu deveria ter pirado: ali? naquele momento?), mas não resistiu, sabendo como eu era firme em obedecer a comandos da alma como aquele, e resolveu dar uma volta no quadrilátero de concreto e aço.
Uma estranhíssima sensação de maravilhamento e raridade acometeu-me o espírito, enquanto, sem palavras, enviava lufadas de sentimentos de adoração a Deus e Seus Grandes Ministros. A própria impressão de singularidade do instante houvera sido um dos feixes principais do ímpeto intuitivo que me havia arrastado à oração no meio da multidão, ignorando todo o movimento em torno de mim (feliz por ser um anônimo por lá: não me seria possível confiar-me a tal conduta “bizarra” em minha terra – eu tinha um programa de TV no ar, desde 1994). Como já conhecia minha propensão precognitiva, perguntei-me, internamente, estranhando a percepção: “Por que esta impressão tão clara de raridade? Sendo tão magnífica a experiência, não vejo motivo para não vir a repeti-la, nos próximos anos, quando voltar para realizar este circuito de conferências por aqui…” Saindo da vivência insólita, cheguei a comentar com o companheiro de passeio o esquisito pressentimento de que aquilo não se repetiria, e aventei a hipótese de que não encontraria tempo para deleitar-me com turismo, sem a sua parceria de viagem, nos anos subsequentes.
No ano seguinte (2000), de fato, não houve condições de deliberar visita ao WTC, e, em 2001, suspendi minha viagem aos USA (compensada por duas idas em 2002), em função do lançamento do programa em rede nacional de televisão pela TVE-Rio (até novembro de 2004). Todos sabemos, entrementes, o que aconteceu exatamente dois anos depois do episódio relatado, em 11 de setembro de 2001, vindo a confirmar, então, a excêntrica premonição que eu houvera vivenciado e, mais ainda, o cabimento da surreal decisão de me entregar à oração e à meditação (por mais de quarenta minutos), em meio ao tumulto de gente.
Quantos momentos raros em nossas vidas passam, sem que aproveitemos, plenamente, os tesouros que nos têm a ofertar. Adeuses nunca dados, declarações de afeto caladas no peito, abraços e beijos que sustamos na nascente… Quantas viagens adiadas para a aposentadoria, ou oportunidades de partilha em família procrastinadas ad aeternum, até que a morte ou o evento mais simples do amadurecimento e partida dos filhos, em busca de sua autonomia na vida adulta, amiúde muito longe de nós, subtraiam-nos todas as chances de viver o protelado, que, em verdade, era inadiável… porque sempre fora inadiável… porque não se posterga a vida, o amor, a felicidade!…
E os entes queridos se vão, e passam as grandes oportunidades de troca íntima, crescimento espiritual e bem-aventurança entre os mais amados, e deixamos de lhes declarar todo o bem que lhes queríamos, todo amor que tínhamos no peito…
Não deixe para depois, querido amigo, o que seu coração lhe grita faça agora, porque, muito mais frequentemente do que imagina, poderá não haver um amanhã, sobremaneira nas situações corriqueiras, ao lado das pessoas mais importantes de sua vida, justamente com quem somos inclinados a deixar para depois o que talvez nunca venha a poder mais acontecer…
(Texto redigido em 7 de maio de 2007. Revisão de Delano Mothé.)