por Benjamin Teixeira.
Em 1999, antes de eu completar 29 anos de idade, o filho único de uma amiga morreu, repentinamente, no dia do aniversário de 9 anos. Chocante, a dizer por muito baixo, para grandes fatias da sociedade aracajuana. As mães, então, pareciam-me supor tratar-se tudo aquilo de “ficção” de mau gosto, num filme “trash”: não poderia ser verdade…
A morte sempre nos pega de surpresa, e nos prega peças… principalmente nas conseqüências a este evento. E uma, inesperada, ocorreu-me, quando voltava para casa, do velatório onde o corpo do menino era visitado, pela última vez, por amigos e parentes. Um pensamento curioso: apesar de me sentir jovem, tinha 20 anos a mais que o garoto, e, então, pela primeira vez, senti uma enorme gratidão pelos anos vividos.
As pessoas costumam se lamentar quando envelhecem, como se a vida só fosse digna de ser vivida, quando se é jovem. A contradição é gritante, nesse raciocínio, visto que é o viver que nos torna velhos. Desde criança, tinha pressa em agregar anos à minha idade. É bem verdade que quase toda criança tem essa sábia inclinação, que perdem aos poucos, à medida que se idiotizam espiritualmente, na proporção em que mergulham na fase adulta. Desde a morte do filho de minha amiga, porém, reforcei ainda mais a tendência (quando ela mais costuma ter declínios, pela proximidade dos 30 anos) e comecei a me sentir presenteado, agraciado por Deus pela dádiva de cada ano e por cada dia vividos, experiência esta que vivo de modo mais vibrante, na comemoração de aniversário e na passagem de ano.
Escrevo essas linhas com 33 anos… (ansioso para dizer 34, que completo no final de outubro). Se fosse mulher, dir-me-ia balzaquiano. Como nós, homens, somos discriminados pela ausência de termo correlato, carregado de simbolismo, como o que deriva do grande literato francês Honorè de Balzac, orgulho-me e encho-me de satisfação por me aproximar, ainda que lentamente, dos 40 anos. E deploro, terrivelmente, a imaturidade daqueles que se envergonham ou mesmo se entristecem de contar anos à sua vida.
Posso me dizer ainda jovem (e os adolescentes – creio que haja alguns – que me lêem, devem agora fazer um sorrisinho maroto, no canto da boca, ante essa minha assertiva – que bom!, estou ficando velho mesmo!), mas fico feliz por cada ano a mais que agrego à idade que apresento, quando ma perguntam. E delicio-me de prazer, quando alguém mais jovem me pergunta a idade e noto que seus olhos brilham, impressionados (embora tente disfarçar, por educação – o que me dá vontade de rir ali mesmo!, ao que não resisto, normalmente adicionando ainda um comentário embaraçoso como: “Muito velho, não é?”. Ao que alguns deles, nervosos – que finesse! – apressam-se a dizer: “Não, que é isso?!”), por haver tanto tempo na minha ficha encarnatória presente. Demorei muito para realizar o sonho de ser gente de verdade – ou seja: estar maduro, e é com grande satisfação que aponho a plaquinha da minha idade sob meu nome, ao ser apresentado em algum lugar.
Somos espíritos eternos, em processo de passagem provisória pelo mundo físico, com o fito de adquirir experiência para nossas almas imortais. E toda essa história sobre sentir-se bem ou não com a própria idade seria prosaica, senão ridícula ou desprovida completamente de propósito, se não indicasse problemas psicológicos e mesmo morais, em suma: evolutivos, em seu bojo. Quem não gosta de tratar do assunto, amiúde tem um complexo narcísico infantil de difícil erradicação, e terá que faceá-lo e não ocultá-lo de si e dos outros, se quiser, realmente, amadurecer. Sou calvo e atualmente apresento uma obesidade que, junto à perda de “telhas” (risos), me dão um ar de pelo menos cinco anos mais velho do que sou, e me rio gostosamente (por dentro, quase sempre) de quem pretende esconder os efeitos dos anos. Na verdade, sinto essas pessoas meio patéticas. Atenção!: não sou contra as pessoas cuidarem do corpo, e até pretenderem parecer mais bonitas, a fim de gozarem de melhor saúde e se sentirem bem. Mas aquela do senhor de quase 80 anos com o cabelinho pintado de castanho-claro e uma basezinha sobre a pele, para “ocultar as rugas”, faz-me dar vontade de gargalhar estrondosamente, se ele não trabalha diretamente com o palco, em peças artísticas. O riso só não me vem mais fácil, porque se mescla à piedade, imaginando que tipo de angústia medonha deve padecer uma pessoa como esta, que quer ser “menina para sempre” (desculpem o humor malicioso – mas a intenção é chamar a atenção para o ridículo da coisa).
Sou fervoroso defensor da cirurgia plástica, porque ninguém tem que andar por aí exibindo cortinas balouçantes de pelancas, assim como não se deve andar despenteado. Mas acho difícil me ver programando um “lifting” (plástica de rosto), quando vai me custar tanto ter as minhas primeiras persianas dermatológicas… Gosto de me lembrar de minha mãe, nestes momentos. Foi uma mulher assombrosamente linda, na juventude, um tipo ariano mignon, raro em Sergipe, pela forte miscigenação racial em nosso estado, com finíssimos traços hollywoodianos. Ouvi dela, recentemente, da altura de seus 57 anos bem vividos, com sabedoria e alegria: “Nunca me senti tão bem, depois que virei uma ‘vovó’. Agora, finalmente, as pessoas me respeitam”. Somente alguém muito primitivo ou com sérios distúrbios psicológicos, envolvendo severo déficit na auto-estima, pode se sentir bem em ser, a todo momento e em todo lugar, visto como objeto de desejo, cupidez e consumo. Faz parte da natureza humana precisar ser amado, admirado e até (em circunstâncias e com pessoas especiais), sentir-se desejado e sexualmente interessante. Mas trocar a dignidade pela vaidade (e a mais pobre de todas: a vaidade por atributos físicos) me parece ser um deprimente atestado de mediocridade e estupidez. Mais do que sermos vistos como carne apetitosa ambulante, carecemos, dramaticamente, ser respeitados e valorizados pelo que somos, podemos fazer e o que representamos, no contexto de nossas sociedades. E se somos desvalorizados por certas pessoas ou ambientes por não nos enquadrarmos nesse ou naquele padrão de consumo… bem…: eu me sinto ótimo, confortável e à vontade, em qualquer lugar, por não ser visto como objeto de consumo (pela maioria!– (risos): chegam-me protestos, com relativa freqüência, contra minha intenção de emagrecer, para não arruinar minha morada física antes da hora: disseram-me que o abraço não seria tão gostoso! (risos novamente)).
Numa época como esta, de paradoxos viscerais, em que adentramos, plenamente a “Era do Conhecimento”, como dizem diversos analistas de tendências, a começar por Peter Drucker, considerado o “papa” da área de Administração e Negócios, e, concomitantemente, assistimos a uma vaga crescente de culto desenfreado ao corpo, caberia refletirmos, cuidadosamente, em torno das motivações verdadeiras que impulsionam alguém a ir para uma academia de ginástica e musculação, em vez de dedicar-se um pouco mais à leitura, à meditação ou à vida em família. Cuidemos, sim, do corpo, morada da alma, mas jamais nos esqueçamos de que somos a alma que vive no corpo e não um corpo que tem um adereço incômodo, como tantos parecem demonstrar sentir: a alma, aquele “coisinha chata” que lhes lembra de sua destinação eterna, de que têm consciência, responsabilidades sociais ou, ao menos, de que são portadoras de um intelecto…
(Texto redigido em 9 de julho de 2004.)
(*) Na última quinta-feira, foi feriado em Sergipe, em que se comemora, no 8 de julho, a emancipação política do estado, que, até o ano de 1820, pertencia ao território baiano. Por isso, não houve atualização de mensagem na sexta, já que antecipei a da sexta para a quinta-feira. Com relação a este artigo, de minha autoria, seria a mensagem para segunda-feira, mas senti, pela atualidade e força de seu conteúdo, que deveria deixá-lo figurar como “mensagem do dia”, durante todo o fim de semana, no que fui devidamente autorizado pelos orientadores espirituais do Outro Plano de Vida. À 0 h de segunda-feira, nova mensagem será posta no ar, que ficará no ar como “mensagem do dia”, por sua vez, até às 24 h da terça, já que corresponderá à mensagem deste último dia. À 0 h da quarta, novamente haverá atualização de “mensagem do dia”.
Benjamin Teixeira.