Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.
Você teoriza, com raciocínio sibilino e ágil, tentando encontrar respostas para o estado mental em que se encontra. Excessos emocionais, estresse no trabalho, preocupações demasiadas, influências psicológicas de companheiros e familiares, tensões no emprego ou em casa.
Na verdade, porém, por mais profundo que seja em sua análise, se não considerar a existência dos seres invisíveis com más intenções, andará em círculos, criará racionalizações brilhantes, explicações inextricáveis e, por fim, nenhuma solução.
Considere, de inversa maneira, a existência das organizações criminosas da outra dimensão de vida, bem como os elementos mentais tóxicos dos sofredores desencarnados, e terá um quadro explicativo que fechará o quebra-cabeças incompleto com que se debate.
Todos, na condição humana, sofrem semelhante assédio insidioso, por parte de inteligências despojadas de corpos físicos, mas alguns, mais sensíveis, padecem terrivelmente, com o ataque vil, constante e, às vezes (não tomadas as devidas precauções), arrasador.
As precauções, você já sabe: ser fiel a seus princípios, manter a mente vigilante, em prece, fazendo um esforço por afastar-se de locais, pessoas ou (não sendo isso possível) de padrões de pensamento destrutivos.
Não se culpe se seu dia não foi tão produtivo, se seus sorrisos não estavam tão numerosos, se não pôde ser gentil ou amável com as pessoas com quem travou contato. Não se martirize, enfim, por não ter encontrado meios de sanar imediatamente seu estado psicológico desconfortável.
Da próxima vez que se sentir “oco”, recorde-se daquelas atividadezinhas simples que costumam reabilitá-lo a sua rotina. Escrever um poema, ouvir uma música agradável, tomar uma ducha morna, telefonar a entes queridos. E, sobretudo, dedicar-se àquele ofício vocacional que tanto o encanta. Eis que, então, no campo do diletantismo ou do ideal, como queira chamar, pinte aquele quadro, toque aquele instrumento, devote-se àquela atividade assistencial que tanto o agradam, que o enlevam, que o desestressam, que o fazem reconectar-se com sua alma.
Sim, eu sei: para você, o processo de vampirização foi tão grave que não enxerga perspectivas de recuperação. Sabe, todavia, que essa é uma impressão equivocada. Outras vezes já se sentiu mal e se renovou. O mesmo se dará agora. Ajuste seus horários com equilíbrio, procurando incluir afazeres que lhe fazem bem, amenizar tarefas que o sobrecarregam, retirar – dentro do possível – ocupações que o angustiam.
Não se cobre não estar maravilhoso sempre. Sua obrigação não é viver a excelência contínua, embora o mercado de trabalho e familiares pareçam dar a entender que sim. Você tem o direito de ser ordinário a maior parte do tempo, a fim de que possa acumular força para ser extraordinário, pontualmente. O segredo está em ser “ordinário”, com equilíbrio e bom senso, com um mínimo de disciplina e coerência. Se fizer isso, o resto virá por acréscimo, naturalmente, quiçá tornando-lhe viável viver, ininterruptamente, aspectos de ser e agir que julga, até agora, exclusivos de seus estados excepcionais de consciência.
(Texto recebido em 2 de dezembro de 2002.)