por Benjamin Teixeira.
Nova York, maio de 1996. Estava nos Estados Unidos, pela primeira vez, para o circuito de palestras que passei a fazer anualmente, desde então. Meu Inglês, à época, era um desastre. Meu lema, ao encontrar qualquer pessoa, antes de dizer: “Hello, nice to meet you!” (*1), era, ao reverso: “Speak slowly, please. My English is terrible!” (*2).
Num certo momento, que não me recordo especificamente qual, estava sem nenhum amigo bilíngüe por perto, e precisei falar algo mais complexo do que: “I want a hamburger, please” (*3), e precisei saber o que se passava na cabeça de alguém, sem me comunicar com esse alguém por uma via complicada como – wow! – a fala. Foi mais fácil, para mim, apelar para a mediunidade. “Eugênia! Eugênia!” – gritei por dentro de mim.
Vestida em sua habitual túnica branca (*4), a bela e serena orientadora espiritual me respondeu: “Não sei. Vou conversar com o mentor do rapaz.”. Notei, então, que a pessoa com quem eu desejava me comunicar (tenho a impressão de que era o balconista de uma loja), estava acompanhado por alguém de pé, na outra dimensão de vida, que vistoriava as atividades profissionais do local (A Espiritualidade Superior sempre assiste todo esforço humano, para que a ordem e o bem prevaleçam. Não fora isso, o caos se estabeleceria em toda ordem de iniciativa humana, dado nosso baixo grau de evolução na Terra). Qual foi minha surpresa, então, quando percebi, claramente, que Eugênia falava, com o tal assistente espiritual do jovem, num belíssimo Inglês, que me pareceu fluente como de um nativo anglo-fônico.
Eugênia, então, veio em minha direção, após isso, e me deu a informação desejada. Depois disso, não resisti: “Eugênia!!!” – exclamei, com um sorriso largo de adolescente, ao acabar de descobrir uma aventura na selva – “Você fala inglês!!!”. Melhor seria que tivesse ficado calado. Eugênia, como todo grande mentor espiritual, não perde uma deixa para transmitir uma lição necessária. “Você acha que sou como você, que não domina o idioma universal dos nossos dias?” E, antes que eu pudesse elaborar um desculpa esfarrapada qualquer, sumiu de minha frente, da mesma forma “mágica” como havia aparecido.
Somos um país de dimensão continental e – caso único no orbe – monoglota (mesmo os Estados Unidos, próximo disso, tem duas línguas vernaculares, hoje em dia: o Inglês e o Espanhol – falado por pelo menos 10% da população). Isso nos ilude e nos faz relaxar, deixando-nos desconectados e descompassados, com o que acontece mundo afora. Quando fui, por exemplo, pela primeira vez fazer conferências na Suíça, em 1997 (A Suíça, que tinha, até recentemente três idiomas oficiais, agora tem quatro), chamou-me muito a atenção a facilidade com que me deparava com poliglotas. Havia gente, pelas ruas, que falava 3, 4, 7 idiomas… e… que humilhação: fluentemente!!! Fato que, em medidas pouco maiores ou menores, é padrão em todo o continente europeu.
Enquanto isso, em terras brasileiras, há muita gente, no meio espírita, preocupando-se em estudar Esperanto; e muito profissional preguiçoso preferindo estudar Espanhol a Inglês, por ser mais fácil de aprender. Todavia, muito embora, de fato, num futuro relativamente próximo (200 a 300 anos), o Esperanto venha realmente a ser ensinado, maciçamente nas escolas de todo o mundo, como a segunda língua de todos os cidadãos da Terra; e inobstante o Espanhol ser muito interessante para transações comerciais com nossos “hermanos” da América Latina, é o Inglês, de um modo óbvio como um transatlântico no cais, o idioma universal do planeta. Aliás, nunca, em toda a história da humanidade, uma língua chegou perto de ser tão universal como o Inglês. O Francês era falado pelo mundo “culto”, dito civilizado do século XVIII. E o latim, antes dele, no correr de toda a Idade Média, pela cúpula da cristandade européia. Ao passo que o grego, pouco antes da nossa era cristã, mal era falado em torno do Mar Mediterrâneo. Fruto de dois grandes impérios econômicos igualmente sem precedentes, ambos estendendo-se por todos os continentes (o britânico e o americano), com forte ação no transcurso de inteiros e consecutivos dois séculos (XIX e XX), o inglês hoje é não só a língua comercial dos dias correntes, mas o turístico, o cultural (como cinema e música pop), o científico e o da global rede internacional de computadores, a internet, estando tão presente em toda parte, que, em qualquer ponto do globo em que se chegue, pode-se, tranqüilamente, sobreviver, e bem, com um suprimento básico de palavras na língua de Washington.
Você pode preferir pertencer a outro mundo. Mas, quer goste ou não, o Inglês deve ser considerado, por você – a não ser que pretenda renunciar ao bom senso, não uma língua “deles”, mas “nossa”. O Inglês é o primeiro idioma da Terra. A diferença é que “eles” (os anglofônicos nativos – cerca de 800 milhões de pessoas), têm o Inglês como língua materna e universal, ao passo que “nós” (os não-anglofônicos pátrios – os 5,5 bilhões de restantes habitantes do planeta), temos o idioma materno – o Português, no caso, para nós brasileiros – e outra língua, o Inglês, como o idioma universal, para usos diversos, como nos comunicar com quem não pertença ao restritíssimo grupo dos luso-fônicos (185 milhões de pessoas) que, em contraste com o restante da população do planeta (quase 7 bilhões de pessoas), sem dúvida alguma, constitui um naco irrisório de almas.
Você já começou e parou “n” vezes seu cursinho de inglês. Queria dizer, porém, amigo, que não falar Inglês nos dias de hoje, equivale a só falar Tupi-Guarani e morar em São Paulo, trabalhando na Avenida Paulista. Esqueça bairrismos tolos, e quaisquer preconceitos xenofóbicos, bem como de toda ordem de desculpismos, como “não tenho tempo” ou “dinheiro” (por favor!!!: não lhe falta tempo nem dinheiro para tomar uma lourinha gelada, num barzinho à beira mar) e lembre-se de que os líderes do planeta se tornaram o que são hoje graças a um traço fundamental em sua cultura, que nos cabe seguir, nós os “molengas” e – dói-me reconhecer e dizer: – “manhosos” latinos, a bem de nosso próprio progresso e bem-estar: praticidade. Se não formos pragmáticos, estaremos fadados à obsolescência e ao ostracismo profissional. E, ainda e principalmente, se você não é motivado por questões financeiras ou egóicas, e é, sincera e profundamente, movido por um ideal, como o espiritual, o artístico, o ecológico ou o humanístico, mais razão ainda para que domine o primeiro verdadeiramente universal idioma da Terra, para que seu ideal alcance mais corações e salve mais vidas. Falando Tupi-Guarani, nem um sorvete pode você comprar num “Shopping Center” – opa!, desculpe-me!, isso significa: “Centro de Compras”.
(Texto redigido em 28 de abril de 2004.)
(*1) “Olá, prazer em conhecê-lo.”
(*2) “Fale devagar, por favor. Meu Inglês é horrível!”
(*3) “Eu quero um hamburger, por favor.”
(*4) Forma comum de elementos do Plano Superior se apresentar, com isso caracterizando o gosto pelo despojamento de qualquer vaidade.
(Notas do Autor)