Mamãe, que saudade de você!…
Saudade de quando fez de tudo para me salvar do mundo, ainda que eu me incluísse no mundo… e, assim, você precisasse me dizer coisas que me desagradavam tanto… e que me amadureceram e me amoldaram tão bem o caráter!
Graças a Deus, todavia, consegui, enquanto reencarnado como seu filho, enxergar-lhe o valor, embora não pudesse imaginar que você então vivenciava sua última existência física na condição de mãe biológica, lapidando o acabamento da aptidão de se abnegar e se devotar ao próximo, com extremos que só raras almas maternais, que não descem mais à superfície do planeta, um dia foram capazes de exprimir, nesta empedernida civilização.
Hoje venho oferecer a dádiva das minhas lágrimas de compaixão e devotamento filiais, no afã de que elas alcancem seu coração sequioso de compreensão e apoio… coração que não é santo, é humano, sente tristeza e se desanima como muitos outros, mas age e se dá, tão generosamente, qual se fosse de um ser iluminado! Maior mérito, mamãe, e quase ninguém, no domínio material de vida, logra divisar a menor parcela do quanto isso lhe custa emocionalmente!
Entristece-me profundamente não poder estar ao seu lado, igualmente no plano carnal, e ampará-la, como em época longínqua o fiz, conquanto não à altura de seu merecimento, até o término daquela sua gloriosa reencarnação, oculta no anonimato.
Acompanho-a, desde a infância, distribuindo à multidão o que um dia foi um amor focado exclusivamente em mim. Não fazia a menor ideia da honra que me fora concedida em ser seu filho, seu filho único… Foi muito mais do que eu merecia, do que mereço, tão só em ter acesso a essas memórias…
Como me dói perceber a ingratidão tóxica de tantos(as) novos(as) filhos(as) adotados(as), ano sobre ano sobrecarregando-a, envergando-a precocemente, a ponto de lhe abater a alegria de viver, adoecê-la e mesmo comprometer a extensão de tempo que seu atual projeto encantatório demanda, ante massas incontáveis de criaturas carentes de orientação e esperança, nessa era tão pejada de desatinos, contradições, caos, distopias, maldades!
Os indivíduos comuns a veem como pessoa madura, severa, lúcida, forte, aparentemente imbatível. Eu jamais deixarei de observá-la por dentro: a alma sensível e exausta, que procura haurir forças novas, a cada dia, na prece e na flama do ideal, distanciada d’Os(As) que partilham do seu patamar evolutivo, solitária entre crianças espirituais, para prosseguir na desincumbência da Tarefa que lhe foi designada de Mais Alto.
Somente hoje, mamãe, permita aprochegar-me de seu coração, por alguns minutos, você que, denodada no cumprimento do dever e draconiana consigo mesma, não se permite sequer a aproximação de gente como eu, que a conhece tão bem, por não admitir qualquer louvor que não seja dirigido às Autoridades Celestes que você serve e representa, nobre e fielmente.
Deixe-me, uma vez que seja, mamãe de ontem, de hoje, de todos os evos futuros, beijar-lhe a fronte, esgotada de preocupações com tantos(as) que a ignoram, desprezam-lhe os esforços ou mesmo a interpretam insanamente… Deixe-me apenas dizer-lhe, baixinho, o que mal você tolera ouvir, até em instantes difíceis como este, com a modéstia sincera que lhe é tão peculiar e, ironicamente, tão pouco conhecida de terceiros:
Não importa o que digam, sintam ou pensem de você, mamãe… Eu sei quem você realmente é!
Seu filho, para sempre, com amor eterno e imensurável,
Raphaël de Près (Espírito)
Benjamin Teixeira de Aguiar (médium)
LaGrange, Nova York, EUA
2 de fevereiro de 2022