Benjamin Teixeira de Aguiar
por uma “Alma Anônima”.
Eu era a melhor aluna da sala. Queria brilhar sempre, ser artista, ser famosa. Desprezava colegas que pensavam diferente. Julgava-me superior, precisava me sentir superior, para me proteger do forte sentimento de desvalia pessoal que me carcomia por dentro, sem que me desse conta disso, quando encarnada.
Desejava viver grandes amores. Viver tudo que pudesse: viajar, sair da terrinha onde renasci (que considerava provinciana), ter uma existência movimentada, intensa, em suma, feliz! Era assim que, supunha, galgaria a minha realização pessoal.
Adulta, desdenhava um colega de infância que começou a se dedicar ao assunto espiritual. Soava-me simplesmente falso. O que poderia querer um jovem pensando e, pior ainda, dedicando-se a essa área de ação? – cogitava comigo mesma. Ainda mais ele, que eu sabia ter capacidade para ser muito bem-sucedido profissionalmente, mesmo na vida política, se desejasse! – concluía, certa de que minha malícia revelava-me um retrato fiel do antigo conhecido…
Desencarnei antes de completar 30 anos. Hoje, volto sobre os passos que trilhei, envergonhada, e, por ordem de Autoridades Espirituais, sob supervisão das Quais estou submetida, graças à Misericórdia Divina, fui encontrar aquele colega (que chegou a ser amigo um tanto mais próximo, por um período breve de tempo, na adolescência), ainda trabalhando no mesmo setor que tanto repudiei.
Não fiquei famosa, não vivi nem a milésima parte do que almejava, em nenhum sentido – e tinha quase certeza completa de que viveria. O tal colega, porém, já na maturidade, não se incomodou quando lhe cheguei revelando essa minha opinião sobre ele. Dotado de faculdades mediúnicas para esse tipo de intercâmbio, disse-me, ao me ouvir o relato inteiro, que fiz questão de delinear sumariamente, para não me machucar tanto:
– Eu percebi sua suspeita sobre minhas escolhas na época, amiga. Lá, também na casa de vinte anos, foi bem mais difícil compreender (sem me magoar) sua postura de levantar dúvidas sobre meu caráter, mesmo depois de conviver tantos anos comigo, ainda mais envolvendo um tema que era e é sagrado para mim. Agora, todavia, minha visão está apurada pelos lustros que se passaram. Entendo que você não tinha como me interpretar d’outro modo, em função dos valores e crenças que desposava.
Um dia, mais velha em espírito, quero ter a maturidade desse antigo companheiro de destino, a quem não prestei a devida atenção, nem concedi o valor que merecia (e merece), e com quem eu muito poderia aprender, se não o tivesse menosprezado. Desejo um dia enxergar o essencial da Vida, desde a mocidade, mesmo estando encarnada, em vez de esperar que uma tragédia me colha de surpresa, seja a morte de um ente querido ou a minha própria, como me aconteceu “tão cedo”, conforme se diz quando se vê o mundo da ótica material, qual se houvesse hora ou idade certa para a frágil máquina do corpo físico parar de funcionar.
A vida no domínio físico de existência é passageira, amigos leitores; não se enganem sobre isso. E, se quiserem um conselho de amiga, não se fiem na juventude do corpo de matéria densa. Eu julgava que tinha um “infinito” de anos pela frente, e nem de longe imaginava que tão cedo estaria desligada do aparelho biológico que me serviu, por um tempo, na Terra, convidada a voltar para a pátria verdadeira, aquela onde nos apresentamos como realmente somos, sem máscaras ou ilusões: a Espiritual.
Não desejo que passem pelos vexames e crises de identidade e consciência que fui compelida a facear, para meu próprio crescimento, percebendo a extensão do tempo perdido com nonadas… um pouco tarde demais…
(Texto recebido em 12 de feveiro de 2013.)