Benjamin Teixeira
pelo espírito Anacleto.
Seria ótimo que o Mal fosse personificado de forma óbvia, como rezam os mitos primevos da humanidade. Lamentavelmente, porém, o Diabo hoje toma formas suaves e agradáveis, amiúde aparentando, com clareza cristalina, ser representante das Forças do Bem. O consumismo desenfreado, o desgoverno dos instintos e a fixação nos prazeres materiais, em detrimento ou mesmo com total olvido do espírito e seus reclamos subidos, estão entre essas categorias reais de manifestação do mal. O excesso de auto-indulgência e de indulgência para com os entes amados, de complacência para com o que desagrega os ímpetos de realização, criação e transformação, os descansos exagerados – eis as vestes embelezadas de Mefistófeles, na cultura moderna: nada que lembre os chifres ou o cheiro de enxofre, mas muito mais lembrando o aroma cativante de chocolate e os ares inebriantes de uma beldade cinematográfica.
Nesse campo, dilemas terríveis surgem, quando por exemplo, enfrentam-se entes queridos, amigos e familiares que, com voz melíflua e expressões inocentes, quando não veementes e aparentemente cheios de razões sagradas, vêm-nos pedir ou sugerir que façamos ou deixemos de fazer o que nosso coração ou nossa consciência nos pede. Desde o pai que reprova a escolha de curso superior de seu filho, até o convite singelo a uma quebra de dieta alimentar – tudo pode constituir vetor das forças de degradação que envolvem os seres sencientes na Terra, ininterruptamente, com o fito de destruir-lhes todas as iniciativas no campo do bem, e que a Divina Providência permite existam, como oportunidade a que suas criaturas exercitem, continuamente, a determinação e o caráter.
Para simplificar, nesse particular, entenda que quem não o ajuda a subir em direção a Deus, desajuda-o, e quem o desajuda está no lado Contra. E quem está do lado Contra deve ser tratado como tal.
Não seja complacente com o mal. Quem lhe sugere amolecer o caráter, o moral, a determinação, a disciplina, não fala em nome de Deus. Atente-se, nesses instantes em que lhe sugerem relaxar, quando deve enrijecer-se: a voz do Diabo fala com você, normalmente com tom adocicado e aparentemente amoroso: são os sofismas enganadores do ego postos em ação por agentes da Escuridão, é o canto tentador da sereia, que arrasta o incauto viajor da Vida para as águas profundas do descontrole, da desarticulação da força de vontade e da perda de sintonia com as Potências Criadoras do Cosmos.
Não acredite que se possa fazer nada de bom e correto, muito menos superior e revolucionário, sem o rigor que a disciplina exige. Óbvio que deve ser flexível e respeitar os limites de seu padrão evolutivo. Mas, após estabelecer o padrão do estrita e minimamente possível, não negligencie cumpri-lo, a não ser que chegue à conclusão, ponderada, de ter feito um cálculo errado de seus potenciais.
Todas as pessoas em sua vida, volta e meia, serão Canal das Trevas para você. É por isso que até Pedro, logo após ter falado em nome do Pai, conforme afirmou Jesus, ao declarar, publicamente, ser Ele o Messias, permitiu-se influenciar pelos impulsos da desagregação, ao sugerir ao Cristo, com aparente piedade, que aquilo (sua paixão) não poderia acontecer, ao que o Mestre respondeu: Cala-te, Satanás. É com essa mesma postura resoluta que deve se dirigir a qualquer um que se aproxime de você, com alvitres aos relaxamentos da preguiça e da covardia. Algumas pessoas, porém, de tal forma se deixarão arrastar ou estarão em sintonia com as Forças da Decadência, que você deve, sumariamente, evitá-las. Não constitui isso um impulso de discriminação, mas de justa ordem, já que cada um tem o direito de seguir seu caminho, mas não de perturbar a opção melhor de quem segue à frente, no trajeto evolutivo. Você seria discriminatório, caso se fechasse a receber essas pessoas, após uma genuína conversão para o bem. Mas, enquanto elas estiverem fixadas no mal, deve respeitar o livre-arbítrio delas, sendo respeitoso, fraterno e solícito quando realmente necessário, tanto quanto não permitir que invadam o seu, abusando-o e enfraquecendo-o, com os influxos tentadores da degenerescência, ao lhes dar guarida em sua intimidade, no convívio estreito dos amigos. Não por outra razão, ao subir ao Getsêmani para orar antes da Grande Crise, o Cristo chamou a Si apenas três de seus Apóstolos, que, ainda assim, de acordo com o relato bíblico, dormiram.
Nada justifica a abertura das comportas da mente para o mal. Todo impulso aparentemente caridoso que der espaço ou exortar a atitudes destrutivas não é, portanto, legitimamente caridoso. Não tenha medo de dizer não e de contrariar mesmo as pessoas mais queridas, quando o convidarem ao relaxamento no campo do essencial, do seguimento rigoroso de suas disciplinas, da concentração nas prioridades de seu ideal, daquilo que sente ser a missão que o trouxe à Terra. Quem se aborrecer por você ser fiel à sua consciência, não é seu amigo. E caso realmente seja, após a rápida contrariedade, voltará em seu encalço, para refazer os justos elos e sentimentos de afeto, respeito e consideração. Aliás, o maior bem que você poderá fazer a essas pessoas será dar um exemplo de inabalável retidão e autocontrole, num mundo tão minado de relativismos enfraquecedores do caráter, dos sagrados ímpetos da alma, dos santos objetivos do espírito.
Hoje é seu dia de renovação. Reafirme, mais uma vez, diante de sua consciência, os propósitos de mudança e realização que o animam, e não mais tergiverse, um milímetro que seja, dessa reta senda para a felicidade, a plenitude e a paz. Isso é o essencial. Se isso não fizer, nada mais terá sentido, consistência ou será realmente satisfatório para você. E, para tanto, não dê espaço a concessões inocentes. As pequenas falhas são como diminutas frestas que põem todo o dique abaixo. Seja radical, até, se necessário for, para que não ceda ao pecado (que significa errar de alvo) novamente, pois, como disse Jesus, ao fazer isso, o demônio que havia sido expelido, retornará com mais outros sete (o reforço da tendência viciosa), para a sanha da destruição, da sua desgraça, do seu inferno…
(Texto recebido em 6 de abril de 2001.)